Foi durante a pandemia que eu percebi que tinha algo diferente. Quer dizer, eu sempre achei que era diferente — não de uma forma especial, nada disso —, mas o que me fez ir em busca de um psiquiatra, primeiramente, foi o fato de que a minha ansiedade estava muito alta e fora do normal, a ponto de eu não querer fazer nada.
Lembro que fui até a cozinha. Minha mãe estava colocando umas roupas de molho na lavanderia e eu, sem jeito e com medo, olhei para ela e disse: “Mãe, eu preciso marcar um psiquiatra, eu não estou bem. Minha ansiedade está muito forte, eu não consigo dormir.”
Claro que não era só isso; eram também os pensamentos que me assustavam e o meu comportamento. Eu não tinha controle de nada, até meu humor mudava, ficava muito irritada. Meu medo era porque meus pais são um pouco conservadores, mas, para minha surpresa, minha mãe disse: “Tudo bem, marque.”
Isso foi em meados de 2023. Comecei a ter acompanhamento de uma psiquiatra e uma psicóloga e a tomar remédio para ansiedade. Fui diagnosticada com TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada, uma condição de preocupação e tensão excessivas e contínuas).
Lembro quando tomei o remédio pela primeira vez. Tomei antes de ir para o curso, fui andando até o ponto. Nisso, como sempre, várias conversas, assuntos e até músicas passavam pela minha cabeça. De repente, enquanto esperava o ônibus, fez-se um silêncio. Não na rua, porque ao lado do ponto havia uma escola, mas dentro da minha cabeça. Foi uma sensação única, porque isso nunca tinha acontecido. Eu podia pensar com calma, uma coisa de cada vez. Claro que não durava o dia todo, mas meu humor mudou, fiquei até mais carinhosa, comecei a conversar mais com meus pais, a sair do meu quarto e a sentar no sofá com eles para conversar e assistir à TV. Eles ficaram surpresos, e minha mãe confirmou a mudança.
Depois de mais ou menos dez meses, tive alta da terapia. Foi um momento bom, de reconhecer muitas coisas, e voltei a fazer atividades que tinha parado. Continuei o acompanhamento com a psiquiatra e o remédio, mas a médica saiu da clínica. Tentei outro profissional, mas não gostei, até começar (ou recomeçar) o acompanhamento com uma nova médica. E percebemos — eu percebi — que tinha algo a mais. O remédio para ansiedade não era o suficiente.
É um pouco pessoal o que vou contar aqui, mas vai que alguém se identifique. Isso não quer dizer que você tenha o mesmo que eu. Lembre-se: sempre procure um especialista.
- Pensamentos excessivos.
- Me distraio com qualquer coisa.
- Começo algo, mas não termino.
- Ou faço tudo na hora ou entrego na última hora.
- Esqueço o que vou fazer, o que ia falar.
- Não consigo ficar parada.
- Preciso fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo.
- É raro algo me prender.
- Crio hiperfoco com várias coisas.
Entre outras coisas. E, depois de algumas sessões, a médica disse que acreditava que eu tinha TDAH, que, de acordo com o Google, é uma “condição psiquiátrica caracterizada pela dificuldade de concentração, hiperatividade e impulsividade excessiva – e que, no caso, persiste em adultos.” A partir daí, comecei a tomar também um remédio para tratar o TDAH. Para minha surpresa, me tornei mais ativa. Eu já estava começando a abandonar as coisas de novo, mas voltei a desenhar, estudar, pintar, tocar instrumentos. Meus estudos melhoraram.
Mas, quando fui na última consulta, eu tinha feito um resumo de como estava me sentindo desde a consulta anterior. Aqui estão alguns pontos:
- “Voltei a desenhar, ler, jogar mais e tocar teclado.
- Ainda fico andando pela casa, com pensamentos mais frenéticos — imagino conversas, diálogos e enceno muitas vezes sem perceber. Acontece mais quando eu acordo; após o remédio, 1 hora depois, diminui, e volta a acontecer por volta das 16 horas.
- Estou esquecendo as coisas com mais frequência. Ex: vou fazer algo, no meio do caminho vejo outra coisa e esqueço; depois de um tempo, lembro.
- Estou mais tranquila para comer, estou comendo mais, porém ainda evito comidas com cheiro forte ou com textura estranha (como cebola).
- Meu último hiperfoco foi em um console portátil. Passei três dias pesquisando sobre e vendo preços. Não comprei.
- Ainda tenho dificuldade de manter rotinas, meu máximo até agora foram 4 dias…
- Ainda demoro para fazer coisas que eu deveria fazer logo. Ex: preciso lavar os pratos e deixo para fazer 5 minutos antes de alguém chegar em casa. Preciso tomar banho e escovar os dentes antes de sair e deixo para fazer em cima da hora. Mesmo sabendo que tenho que fazer, me distraio com outras coisas.
- Consigo manter o foco nos estudos por mais tempo, mas às vezes preciso fazer outra coisa junto. Ex: Durante a aula de inglês, fiquei desenhando, mas, mesmo assim, fui participativa.”
A médica pediu que eu fosse a um neuropsicólogo (psicólogo especializado em neuropsicologia, que estuda a relação entre o cérebro, o comportamento e as funções cognitivas como memória, atenção e raciocínio), para entender “quem eu sou e como eu sou”.
Marquei a consulta, mas o dia ainda não chegou. Nem sei como é; sei que normalmente são feitos testes para saber se tenho algo ou não e, talvez, confirmar o TDAH e outras coisas. Comecei a tomar também um remédio antes de dormir. Na bula, diz que é um antidepressivo, mas é para me ajudar a dormir. Eu até dormia, mas acordava ainda cansada. O problema dele é que me deixa muito sonolenta. Espero que passe logo. Ela também recomendou a volta a um psicólogo, mas estou sem condições para isso no momento.
Vamos ver os próximos capítulos.
Published by